Esta ideia, cada vez mais facto, de que o açúcar é veneno, no sentido em que se mostra totalmente vazio sob o ponto de vista nutricional, mas principalmente tóxico para o nosso organismo, tem ganho uma importância cada vez mais proeminente na minha cabeça.
Há muito que leio sobre, e há algum tempo que comecei a procurar alternativas ao seu uso. Não consegui, ainda, suprimi-lo em absoluto da minha alimentação. Não sou adepta de extremismos e sei que não sou obrigada a fazê-lo, mas sinto que devia e, sinceramente, gostava muito.
Tenho tentado compatibilizar a paixão por fazer bolos, doces e experimentar receitas novas, com esta vontade de excluir o açúcar cá de casa (e aqui a coisa começa a complicar-se!).
Sei que em algumas receitas é impossível. Quanto muito faço o que sempre fiz, corto imenso às quantidades indicadas. Mas para conseguir chegar a uma solução doce bem sucedida, sem recurso a refinados, recorro frequentemente às geleias e xaropes naturais – agave, ácer, cevada, etc.
Há muito a ideia que certos doces sem açúcar simplesmente não funcionam, perdem a sua natureza e passam a ser outra coisa qualquer. Consigo concordar, mas também acho que, em algumas situações, é uma questão de habituação do nosso palato a essa nova roupagem, que, não tendo eventualmente a textura e o sabor exactamente iguais ao que estamos habituados, pode ser igualmente deliciosos.
Para esta receita, que teria de estar associada ao Natal, criada no âmbito da parceria com o site Nutrição Feminina, diz-me a Dra. Carla: “Consegues adoçar sem recurso a xaropes ou geleias? Simplesmente com fruta, por exemplo?”.
Claro que a resposta foi positiva. Para um bom resultado o desafio seria maior, o que adoro, mas teria de ser igual e certamente funcional.
Bom, a reinterpretação deste doce tão típico da mesa portuguesa, anulou completamente o açúcar de qualquer tipo, mel ou xaropes naturais, assim como o glúten. Contou com a inclusão das tâmaras, do puré de maçã e das especiarias, para obter os mesmos efeitos de sabor e textura. E acreditem que ficou bem docinho e extra cremoso.

Para quem pretender abusar menos um bocadinho nesta quadra que se aproxima, ou mesmo para os que conseguem portar-se bem todo o ano, fica esta alternativa, do mais delicioso que há, para o tradicional Arroz Doce.

ARROZ DOCE ESPECIAL
 
Ingredientes
(4-6 doses)
150 gr de arroz para arroz doce
600 ml de bebida com sabor a baunilha (usei Shoyce)
2 maças, grandes, maduras e pouco ácidas
8 tâmaras secas
Água
4 raspas de limão
1 pau de canela
1 pitada de sal
2 gemas
1/2 colher (café) de canela
1/2 colher (café) de erva doce
1/4 de colher (café) de gengibre
Preparação
Começar por retirar os caroços das tâmaras, corta-las em quartos e coloca-las de molho num pouco de água. Deixar repousar cerca de 1,30h.
Descascar e descaroçar as maçãs, cortar em pedaços e levar ao lume a cozer em cerca de 150 ml de água e uma pitada de canela. Quando estiverem moles retirar da água (coar e reservar esta água!) e reservar.
Num tacho médio colocar a bebida com sabor a baunilha, o pau de canela e as raspas de limão. Quando estiver bem quente juntar o arroz, mexer e reduzir o lume para o mínimo.
Entretanto juntar num processador de alimentos ou trituradora, o puré de maça e as tâmaras. Triturar durante cerca de 5 minutos até se obter um preparado bem cremoso e homogéneo. Se necessário triturar um pouco mais.
Deixar o arroz cozer cerca de 15 minutos, sempre no mínimo e mexendo para não agarrar, e acrescentar a água de cozedura da maçã.
Deixar cozer mais 10 minutos e verificar se o arroz já se encontra quase no ponto. Acrescentar o puré de maçã, a canela, a erva doce e o gengibre e envolver bem e deixar cozinhar mais 1-2 minutos.
Retirar do lume, juntar uma colher de arroz às gemas e mexer energicamente. Juntar as gemas ao arroz, no tacho, e envolver bem. Levar novamente ao lume até quase começar a ferver e retirar.
Verter num prato/travessa de servir, deixar arrefecer um pouco, polvilhar com especiarias a gosto e servir.
Sugestão: Decorar com gomos de maçã caramelizada.Nota: Para uma opção vegan, as gemas podem ser substituídas por uma colher de sopa de amido de milho, diluída num pouco de água.
Nota 1: Para conferir um toque mais amarelinho pode juntar-se ao amido uma pitada de açafrão.