Este foi seguramente o melhor doce que comi nos últimos tempos! E só por este motivo tinha de abrir o post com desta declaração.

Para apaixonados por (muita) textura, intensidade, sabores frescos e mesclas vibrantes, acredito que se o experimentarem dirão o mesmo que eu.
Quando me propus a participar no Desafio Açoriano II, passatempo que a Elisabete resolveu muito bem repetir (podem ver aqui a proposta da 1ª edição), não imaginava qual o ingrediente que me seria atribuído (a novidade em relação à edição anterior é precisamente a atribuição de um ingrediente-base aos participantes). Quando o li fez-me alguma confusão, pois nunca o identificaria como ingrediente mas sim como produto final. Até que lá se fez luz e entendi, acho eu, o que a autora do desafio pretendia. O meu ingrediente é Massa Sovada.
Algo que não pode deixar de ser realçado é o cuidado que a Elisabete tem neste seu projecto de promover sempre os produtos regionais açorianos. Numa 1ª fase, através da sua apresentação, pois nem sempre temos acesso e os conhecemos, e de seguida colocando-nos a explorar e provar todo o seu potencial. Não tem de ser chatos, aborrecidos ou monótonos. Antes pelo contrário, fica demonstrado que tem imensa personalidade e muito valor, produzindo excelentes pratos e propostas deliciosas.
Até o dia de publicação das participações não foi escolhido ao acaso. Hoje, dia 16 de Maio celebra-se, este ano, a Segunda-feira do Espírito Santo e o Dia da Região Autónoma dos Açores, logo, é a data perfeita para desta forma se homenagear o arquipélago açoriano.
Posto isto lá comecei à procura e encontrei a açoriana Massa Sovada por cá, mais precisamente na banquinha regional do El Corte Inglês. Assim que a vi assemelhei-a muito aos nossos folares nortenhos. Ao cortar e provar confirmo as suposições, contudo, acho a Massa Sovada mais leve, solta e menos densa.
A Massa Sovada é um pão doce original dos Açores que marca presença em todas as ilhas, e é feito e usado nas Festas do Espírito Santo e na Páscoa.
As receitas podem apresentar variantes de ilha para ilha. Esta que encontrei e usei é de Fajã de Cima, ilha de São Miguel.
Devo dizer que foi quase imediata a ideia do que pretendia fazer. Como aprecio pouco estas massas comidas assim ao natural, reconhecendo-lhe, no entanto, muito potencial quando integradas em ambientes mais húmidos e intensos, achei que a ideia de a incorporar num Trifle com fruta, calda e crocâncias, resultaria muito bem.
Os sabores teriam de me remeter ainda mais para a natureza desta região insular. Pelo que, o ananás surge imediatamente como fruta rainha do doce. Os outros elementos foram aparecendo naturalmente, como complementos não menos importantes.
O trifle é, para quem não conhece, um doce de camadas, muito versátil, onde considero ser fácil chegar a resultados harmoniosos, desde que conjugados os sabores certos (se é que isto existe!).
Pois tenho de concluir que aqui existiu. É que este aquário, como lhe chamamos por cá, ficou divinal.
E assim participo neste desafio, esperando ter valorizado e dignificado devidamente a Massa Sovada da terra natal da anfitriã, um arquipélago de uma beleza apaixonante que um dia terei o prazer de conhecer.

 

TRIFLE TROPICAL

Ingredientes

(6-8 pessoas)
300 gr de Massa Sovada (usei da Pastelaria Farias, Fajã de Cima)
400 gr de queijo mascaspone
100 gr de açúcar em pó
2 iogurtes gregos, naturais açucarados
1/2 colher (sopa) de extracto de baunilha
1 pitada de canela
120 gr doce de frutos vermelhos caseiro
120 gr de polpa de maracujá e manga (usei da Yonest)
5-6 fatias finas de ananás dos Açores
8-10 biscoitos de chocolate branco “fingers” (usei Cadbury)
3 colheres (sopa) de noz pecan, partida grosseiramente
4 suspiros, médios
Licor de maracujá dos Açores (opcional)

Preparação

Começar pelo creme, batendo o mascarpone até estar macio. Juntar o açúcar, a canela e o extracto de baunilha e bater um pouco mais até o açúcar estar perfeitamente envolvido. De seguida acrescentar o iogurte e envolver bem. Reservar no frio até usar.
Cortar as fatias de ananás em pedaços pequenos. Reservar.
Partir grosseiramente os biscoitos e juntar à noz pecan. Reservar.
Fatiar a massa sovada em fatias de cerca de 1,5-2 cm de espessura e cortar em tiras. Reservar uma fatia para triturar, tostar ligeiramente e concluir a decoração do doce.
Montagem: num recipiente, idealmente de vidro, começar por espalhar uma camada de fatias/tiras de massa sovada, salpicar com um pouco de licor, seguindo-se de pedaços de ananás e uma camada generosa de creme de mascarpone e iogurte. De seguida espalhar o doce de frutos vermelhos e de polpa de manga/maracujá, a gosto, e finalizar com a mistura de biscoito com noz pecan. Repetir as camadas por esta ordem até terminarem os ingredientes. A última camada deverá ser de creme de mascarpone, regado com doce e polpa, e finalizando com o crocante de biscoito e noz, ao que se acrescenta os suspiros grosseiramente desfeitos à mão e migalhas de massa sovada ligeiramente tostada no forno.
Conservar no frio até à hora de servir.
Servir bem fresquinho.