A Maria tem destas coisas. Gosta de comida boa, gosta de histórias, e adora que as juntemos.
Também gosto, confesso. Mas isto de juntar estes dois itens leva-me invariavelmente a um universo demasiado meu. Tão pessoal e profundo que devo confidenciar que escrever este post me provocou alguma desidratação.

De entre as minhas pessoas, a que comia com maior prazer, que adorava experimentar, que partilhava de um enorme e genuíno gosto pela comida, era, sem dúvida, o meu Pai. A comida, e invariavelmente o blog, ligam-me sempre, e ainda mais, a ele. De uma forma que me ultrapassa e tenho dificuldade em explicar.
Criei o blog quando o meu pai já não estava cá. A sensação agridoce que sinto quando ouço “o teu pai é que ia adorar isto”, ameniza ligeiramente por saber como ele ia delirar ao ver o Basta Cheio formar-se, adaptar-se, evoluir, crescer. Seria a melhor pessoa para me dar palpites e ideias mirabolantes para pratos. Sim, porque as maiores mistelgadas, num sentido deliciosamente criativo, vinham dele (era cada almoço altamente alternativo que nem é bom). Seria o melhor companheiro de testes e provas. Seria perfeito tê-lo cá. Para partilharmos os pratos e para tudo o resto.

Esta proposta surge para dar forma à segunda edição do Desafio Receita Saudável, que a Maria, do blog Limited Edition tão bem resolveu promover. Um passatempo que mais do que mostrar boas receitas saudáveis, objectiva promover uma abertura de consciências sobre o efectivo interesse em darmos ao nosso corpo o que é melhor para ele, e com isso encher a mente de benefícios. Tenho de assumir que nesta função a Maria é bem mais eficiente e fiel à causa do que eu, basta lerem o seu post “10 mandamentos para uma vida (relativamente mais) saudável”, para perceberem.
Sou orgulhosamente repetente, e na minha primeira participação no desafio trouxe esta proposta, que, como podem ver, também se dirigia à mesma pessoa. Acho que nem podia ser de outra forma.
Não querendo transformar este post numa leitura triste ou demasiado nostálgica, ainda que invariavelmente o seja, também não estou certa de estar a contar uma história. Certa estou que as minhas memórias com a comida me conduzem sempre à mesma pessoa, tão apaixonada por ela como eu, e que, segura e inconscientemente, me inspira a fazer mais e melhor.
Este Ramen (ou Lámen) foi pensado para o meu Pai. Estruturado de forma simples com alimentos sólidos quase básicos, bem ligados ao campo, onde adorava plantar as suas coisas e colher, ou comer directamente da árvore. Sendo que este era um dos rituais diários que seguramente mais prazer lhe dava.
Apresenta alguns dos ingredientes que mais adorava e sabores exóticos, alguns que já conhecia da Macrobiótica, e tem o caldinho perfeito para sorver no fim, como tanto gostava de terminar a sopa.

Experimentei pela primeira vez este clássico da cozinha asiática muito recentemente. Assim que vi um novo espaço destinado a esta vertente da culinária japonesa foi rápida a visita numa das fabulosas e experimentais quartas feiras na invicta.
Em termos de sabor achei mais leve do que imaginava, no sentido de constatar uma deliciosa harmonia de aromas, pois os ingredientes sólidos que o compõe associados à sua quantidade não fazem do ramen um prato propriamente ligeiro.
No fundo é uma sopa bem à séria que faz uma refeição completa. Tem massa/noodles mergulhados no caldo (a alma do prato) que pode ser de legumes, de carne ou de peixe, e muito frequentemente tem cogumelos e cebolo. Os “pózinhos” da base do molho conferem aquele twist que nos surpreende e garantem a envolvência do prato. Neste caso a soja e o miso foram as estrelas.
Confesso que adorei a experiência e sei a quem também faria as delicias. Pelo prato em si e por todo o ritual que é comê-lo, com pauzinhos e colher, tentando manter a roupa livre de salpicos. Haaa… e óculos fora!

É tanto nestas como noutras pequenas coisas, em tudo que nos liga a quem já não as pode partilhar connosco, que os nossos mais importantes vão vivendo. Na lembrança constante, na certa suposição do valor que iriam dar ao que estamos a viver, na segurança de que estão sempre connosco e felizes por nós.

Não sei se esta taça especial se faz acompanhar propriamente de uma história, mas para mim foi muito mais do que isso. Soube e fez-me muito bem saboreá-la, mas sim, podia-me ter sabido realmente pela vida, se partilhada.

Para nós, Pai!
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Ramen ESPECIAL

Ingredientes

(2 doses)

1 ou 2 ovos médios
100 gr de cogumelos  marron
3 chalotas
100 gr de grão de bico cozido
80 gr de nabiças
2 dentes de alho grandes
Sal
Oleo de Sésamo
Molho de soja
Mirin
Miso (usei 1 saqueta de 15 gr de pasta para sopa instântanea)
Gengibre fresco (cerca de 4 cm)
85 gr de noodles para ramen
1-2 alga nori
Cebolinho fresco qb
Sementes de sésamo branco tostadas qb

Preparação

Começar por preparar os ovos: colocar água a ferver num tacho, introduzir os ovos e reduzir o lume para o mínimo. Deixar cozer durante 7 minutos, retirar a água quente e colocar logo em água bem frio, ou com gelo, durante 3 minutos. Descascar os ovos e reservar.
Levar as nabiças a cozer em água abundante temperada com um pouco de sal. Ao fim de 5-6 minutos verificar se estão cozidas, retirar da água e reservar as duas coisas (não deitar a água fora!).
Numa wok colocar um fio ligeiro de óleo de sésamo, o pedaço de gengibre descascado e fatiado e o alho esmagado. Quando os ingredientes começarem a libertar aroma acrescentar os cogumelos fatiados e a cebola em rodelas. Sobre lume alto ir abanando a wok para que os legumes salteiem mas não colem. Quando ganharem cor adicionar 2 colheres de sopa de molho de soja, uma de mirin e uma pitada de sal. Deixar cozinhar mais 2-3 minutos, retirar da wok e reservar.
Na mesma wok verter a água da cozedura das nabiças (cerca de 400-500 ml) e quando ferver acrescentar o miso e 3-4 colheres de sopa de soja. Mexer, verificar temperos e se necessário acrescentar sal (não achei necessário). De seguida acrescentar os noodles e deixar cozer cerca de 3 minutos. Verificando que já se encontram macios e cozidos colocar na taça/malga de servir.
Por cima dispor os restantes ingredientes a gosto: grão de bico, nabiças, cogumelos, cebola e o(s) ovo(s) aberto(s) ao meio.
Decorar com bastante cebolinho picado, sementes de sésamo e com alga nori enrolada.
Servir bem quentinho, envolver tudo e comer.

 

 

Quem quiser juntar-se ao Desafio Receita Saudável basta que envie mail para lim.edition2012@gmail.com e agendar a participação com a autora do passatempo, que terá certamente todo o gosto em receber-vos.
Se reproduzirem as propostas apresentadas neste contexto, não se esqueçam de utilizar o #desafioreceitasaudavel para as partilharem e todos poderem aprender e sair beneficiados com a forma que cada um tem de se relacionar com a saúde através da comida.