É impossível dissociar a amêndoa da nossa doçaria, tanto regional como conventual. Assim como também o é afasta-la da época festiva que se aproxima. Entendo que a Páscoa é a fase em que este fruto seco assume um papel de maior destaque, ainda que seja um ingrediente-marco de toda a nossa doce reportório gastronómico.

Embora que num contexto algo diferente do da nossa doçaria, mas igualmente muito imbuída nos princípios da sua origem, a proposta para a 15ª edição do Sweet World tem assim a amêndoa como rainha.
Falamos então da famosa Tart de seu nome Bakewell. Que tendo nascida inglesa se inspirou no Bakewell Pudding e cresceu de forma simples mas vincada, assumindo-se como doce típico extremamente apreciado.
Ainda que se encontrem referências da sua ligação à cidade de Bakewell, em Derbyshire, parece que poucas provas existem nesse sentido. O século XIX será o seu ponto de partida, apesar do seu irmão pudim ser bastante anterior.
As referências históricas remetem-nos, como em vários outros doce do mundo, para um erro de um pasteleiro da zona de Bakewell, que ao enganar-se na junção dos ingrediente se viu obrigado a remediar a situação, chegando a este resultado que acabou por agradar imenso se tornar num símbolo da sua região.

Vale pelo carácter de reputado doce do mundo que é, impossível dissociar da doçaria britânica e já se encontra na nossa lista de propostas desde o início.
Adoro esta tarte e como tal já a fiz um par de vezes. Contudo, assim que se verificou a aproximação da Páscoa, e dada a vontade da Lia em se estrear nesta receita, não existiam grandes dúvidas: era perfeita para esta edição!

Tecnicamente é um doce que não apresenta um elevado grau de dificuldade, estruturando-se de forma simples, em 4 elementos bem distintos:
– Base em massa quebrada doce;
– Camada de doce de framboesa ou morango;
– Recheio de creme Frangipane;
– Cobertura em amêndoa laminada.

É um doce que seguramente nunca defraudará verdadeiros apreciadores de amêndoa e de sabores amanteigados. O crocante da massa e o efeito mais ácido do doce de fruto vermelho ajudam a equilibrar a densidade do frangipane, criando um resultado soberbo, principalmente depois de a deixarmos refrescar um pouco. Eu prefiro-a assim e sempre bem acompanhada por uma chávena de chá. Excelente!

Optei por repetir a receita que já conheço e gosto, do chef Gordon Ramsay, cozinheiro inglês bem conhecido de todos nós. Na sua base é muito semelhante à maioria, contudo, apresenta um aspecto menos usual: o efeito rede no topo da tarte. Tentando não deturpar muito o conceito original, pois não é isso que se pretende neste desafio, optei por criar um misto entre a apresentação habitual deste doce, coberta com amêndoa laminada, e um pouco de rede apenas a garantir-lhe alguma da expressividade que lhe reconheço.

Porque a Páscoa fica mais bonita com um doce marcante e diferente a embelezar a nossa mesa, e porque a Primavera não tarda e merece sempre ser muito bem recebida, a bela Bakewell mostrou-se uma sugestão à altura das exigências.
E que bem soube voltar a provar esta simples maravilha que tem tudinho para me agradar: intensidade, textura, contraste e muito sabor!

Se aceitam este desafio basta seguirem as seguintes regras:

  • Tem até ao dia 20 de Abril para nos apresentarem a vossa Bakwell Tartdeixando aqui neste post o link da vossa participação;
  • Só participações enviadas até este dia serão consideradas;
  • Neste mesmo dia, 20 de Abril, será publicado no blog da Lia o tema da próxima edição;
  • round up desta 15ª edição será publicado aqui no blog no dia 25 de Abril.

 

BAKEWELL TART


(Receita adaptada do livro “Cozinhar para os amigos”, de Gordon Ramsay)

Ingredientes

(10-12 fatias)
Massa quebrada doce*
250 gr de manteiga, à temperatura ambiente
200 gr de açúcar
3 ovos grandes, ligeiramente batidos
1 colher (chá) de extracto de baunilha
250 gr de amêndoa ralada/farinha de amêndoa
3 colheres (sopa) de farinha
Raspa de limão
3-4 colheres (sopa) de doce de framboesa caseiro
2 colheres (sopa) de doce de alperce, misturadas com 2 colheres (chá) de água a ferver
*Massa quebrada doce
125 gr de manteiga sem sal, à temperatura ambiente
250 gr de farinha de trigo
80 gr de açúcar
1 ovo médio

Preparação

Para a massa quebrada, colocar a manteiga e o açúcar num processador/triturador e triturar até estar envolvido. Adicionar o ovo e triturar mais 30 segundos. Juntar a farinha e triturar até a massa estar uniforme (não processar demasiado para não ficar demasiado dura). Se a massa estiver demasiado seca adicionar uma colher de água fria. Amassar levemente sobre uma superfície ligeiramente enfarinhada e dar-lhe a forma de disco. Embrulhar em película aderente e levar ao frigorífico 30 minutos.
Entretanto pré-aquecer o forno a 190ºC.
Retirar a massa do frio e esticar sobre uma folha de papel vegetal até ficar com a espessura de uma moeda de euro. Forrar uma tarteira com 23-25 cm de diâmetro e cerca de 4 cm de altura, de fundo amovível, deixando um pouco de massa por fora da tarteira. Levar ao frigorífico cerca de 30 minutos, enquanto o forno aquece.
Entretanto estender as sobras da massa em forma rectangular, colocar num tabuleiro e usando uma régua cortar tiras de cerca de 1 cm de largura. Levar ao frigorífico.
Cobrir a massa da tarteira com papel de alumínio e colocar feijões ou pesos próprios por cima. Levar a massa ao forno, cerca de 15-20 minutos até ficar firme e ligeiramente dourada nos bordos.
Retirar do forno, remover o papel de alumínio e os feijões e deixar arrefecer um pouco.
Preparar a massa, batendo a manteiga com o açúcar até obter um preparado leve e fôfo. Incorporar gradualmente os ovos e a baunilha e depois acrescentar a amêndoa, a raspa de limão e a farinha peneirada.
Aparar o excesso de massa da tarteira e distribuir uniformemente uma camada de doce de framboesa pela base.
Espalhar por cima a mistura de amêndoa e alisar bem a superfície.
Usar as tiras de massa para criar um efeito de rede em cima do recheio, colocando a primeira série de forma paralela e depois por cima de forma perpendicular. Deixar alguns centímetros entre elas e cortando o excesso nas pontas.
Levar ao forno por cerca de 35-40 minutos, até a massa estar firme e dourada.
Retirar do forno e ainda quente pincelar a superfície com o doce de alperce misturado com a água.
Deixar arrefecer e servir.
Nota_1: se usar doce de compra ter atenção à quantidade aplicada para não se tornar demasiado doce.