A minha mãe, que é uma óptima cozinheira de pratos principais tradicionais (o seu soberbo arroz de forno será obrigatoriamente reproduzido aqui um dia) nunca foi muito de fazer bolos, sobremesas ou doces no geral. Talvez por isso eu tenha tanta carinho e curiosidade por esta área e a vá aperfeiçoando com mais empenho e gosto. Não sei.
A mãe da Ana, uma das minhas grandes amigas de infância, por seu lado, sempre foi uma excelente doceira. E não só. Mas esta é a vertente dos seus dotes culinários que mais me marcou já há umas boas décadas (por mais estranho que isto soe, é a verdade!).

Lembro-me de comer nas suas festas de aniversário sobremesas que nunca tinha visto ou provado. Uma espécie de pudim-bavaroise de morango incrível, que se destacava numa mesa cheia de outros deliciosos doces, ficou-me para sempre marcado.

Como tantas vezes acontece, o passar dos anos, as distintas opções de vida, os diferentes percursos académicos acabam por nos afastar de pessoas que realmente marcaram uma determinada fase do nosso percurso. E se o facebook é um instrumento de carácter social com aspectos também positivos, porque o é, este é um deles: a capacidade de promover o reencontro com aqueles por quem nunca deixamos de sentir um imenso carinho e recordar com sorrisos. Assim aconteceu com a Ana, que conheci aos 10 anos, na mudança de escola sentida como mais atroz e terrorífica de sempre.
Depois de mais de 15 anos sem nenhum tipo de comunicação, numa fase da vida tão diferente e especial para as duas, conseguimos voltar a falar, estar, usufruir e tentar não perder o contacto.

Posto isto, no chá de bebé do Du lá surgiu esta deliciosa sobremesa, feita pela D. Clotilde, cobiçada por todas as presentes e saboreada até ao limite sem dó nem piedade. Não me recordo se já a tinha provado em miúda mas alguma coisa nela me era familiar. Deliciei-me e tratei logo de cravar a receitinha à sua dona.

É um doce de colher, estruturado em camadas, relativamente simples de executar e tão tão bom. Faz lembrar um trifle bem básico, com a camada de bolo representada pelos palitos de champanhe, o leite creme no recheio e as natas com o crocante da amêndoa a fazer toda a diferença.
Pedi a receita, reproduzi, gostei do resultado, toda a gente adorou, mas não me pareceu exactamente a mesma coisa. Eu tenho imenso destas cismas: nunca me parece igual à que me apaixonou. Acho que além de exigente sou muito ligada aos sabores originais e às memórias que eles me criam, talvez por isso fique com esta sensação. Porque inegavelmente este é um doce maravilhoso.

Muito Obrigada D. Clotilde. Muito Obrigada Ana.

 

DOCE BRILHANTE

Ingredientes

(8-10 pessoas)

150-200 gr de palitos de champanhe
1/2 cálice de vinho do porto branco
1 lata de leite condensado
1 lata (leite condensado) de leite
4 gemas
400 ml pacotes de natas (2 pacotes)
3 colheres (sopa) de açúcar em pó
Amêndoa laminada torrada

Preparação

Numa travessa ou prato larga de servir espalhar os palitos de champanhe até forrar completamente o fundo. Salpicar bem com o vinho do porto até os biscoitos estarem algo moles mas não demasiado. Aqui importa usar o vinho, maior ou menor quantidade, a gosto. Reservar.
Juntar o leite condensado, o leite e as gemas e levar a lume brando num tachinho até engrossar. Retirar do lume, deixar arrefecer um pouco e verter sobre os palitos. Deixar o creme arrefecer completamente.
Bater as natas bem firmes, juntar o açúcar em pó e bater mais um pouco. Colocar sobre o leite creme já completamente frio e arranjar com a superfície a gosto com uma colher.
Na hora de servir polvilhar com a amêndoa laminada.
Conservar no frio e comer bem fresco.

Nota: não convém adoçar demasiado o chantili pois o creme já é bastante doce. Esse equilíbrio entre os dois elementos é essencial.
Nota_1: antes de bater as natas levar os pacotes 10-15 minutos ao congelador.
Nota_2: também fica muito bem servido em prato de vidro para se perceberem as diferentes camadas.