Sei que o fascínio por tartes é comum a muita gente. Sinto que não é só pelo facto de se tratar de um doce esteticamente super apelativo, delicioso e versátil, mas principalmente porque requer uma dedicação mais atenta e um envolvimento mais minucioso do que um bolo simples, por exemplo.
Aquelas tirinhas de massa, redes quadriculadas, folhinhas, flores e entrançados fazem parte do imaginário que quem facilmente se baba com imagens de belas tartes. Como eu!
Os resultados, esses são normalmente altamente convidativos, muito bonitos, e com sabores que facilmente agradam a qualquer guloso que se preze.

Pois este 33º Sweet Word Challenge traz-nos uma das tartes mais emblemáticas e, acredito eu, deliciosas, do seu legado gastronómica, uma das receitas doces mais tradicionais do Sul da América, a Pecan Pie. A par de Aplle e da Pumpkin, a sugestão desta edição será das mais associadas à cultura americana, quentinha e reconfortante, bem condizente com o Outono que se começa a manifestar.

Ainda que existam referências ao uso da noz pecan por parte dos nativos americanos desde há milhares de anos atrás, surgem indicações que esta tarte nasceu quando os franceses chegam a Nova Orleães. O que também não se pode estranhar de todo dado o peso e valor da cozinha francesa na pastelaria mundial.
A primeira referência escrita acontece no entanto em 1886, na revista Harper´s Bazaar, embora há quem defenda que as “tartes de noz” já existiam antes disso no Alabama.
A consolidação da popularidade deste doce aconteceu, porém, muito por responsabilidade de uma marca americana de xarope de milho, a Karo, que contribuiu para a enraizar nas casas e seio das famílias americanas esta versão e outras que foram surgindo com recurso a adoçantes alternativos.

Procurei bastante e, como sempre, queria algo o mais fiél à versão original. Das várias que encontrei, referenciadas como Southern Pecan Pie, eram muito semelhantes entre si e remetiam sempre para receitas muito antigas, tradicionais, de família.
O xarope/geleia de milho é ponto assente, ainda que existam variações mais recentes com xarope de ácer, mel ou melaço. Também o chocolate e o bourbon passaram a figurar em algumas versões deste doce.

A análise preliminar das receitas visitadas gerou alguns arregalar de olhos quando me deparei com a quantidade de doce indicada. Para mim, que por hábito reduzo a quantidade de açúcar em tudo que faço, estava a custar-me assumir tamanha dose, contudo, assumo que o resultado finam é realmente muito saboroso e tão envolvente que não consegui achar demasiado doce. Como podem ver pelas fotos do interior da tarte, é um doce decadente mas nada que deva assustar.
É efectivamente uma verdadeira delícia, equilibrada pelo sabor mais sóbrio e textura das próprias nozes.

Estou em crer que isto é do melhor que nos pode chegar dos Estados Unidos. Porque nenhum legado grastronomico poder ser susceptível de análises ou avaliações negativas, uma vez que conta de forma bonita e isenta a história de um povo ou, muitas vezes, o encontro e cruzamento de vários. Gosto de acreditar que esta maravilhosa Southern Pecan Pie sabe mesmo ao melhor da América.
Querem um conselho? Façam-na no Thanksgiving Day que se celebra a 22 de Novembro, e entrem verdadeiramente no espírito da “coisa”. Ou então não esperem e façam-na já amanhã, mas não deixem de provar esta menina!

Se aceitam o desafio e se se querem juntar a nós na execução de uma Tarte de Noz Pecan, basta seguirem as seguintes regras:

  • Tem até ao dia 20 de Novembro para nos apresentarem o vosso doce, deixando aqui nesta publicação o link da vossa participação;
  • Só participações enviadas até este dia serão consideradas;
  • Neste mesmo dia, 20 de Novembro, será publicado no blog da Lia o tema da próxima edição;
  • O round up desta 33ª edição será publicado aqui no blog no dia 25 de Novembro.

PECAN PIE / TARTE DE NOZ PECAN

Ingredientes

(6-8 fatias)

|Massa (adaptei esta receita)
190 gr de farinha
1 pitada de sal fino
120 gr de manteiga sem sal fria
4-5 colheres (sopa) de água fria
2 colheres (sobremesa) de vinagre branco

|Recheio (conjuguei várias receitas ajustando as quantidades de adoçantes)
3 ovos
200 ml de geleia ou xarope de milho
100 gr de açúcar mascavado escuro
50 gr de manteiga sem sal amolecida
1 colher (café) de canela
1 colher (chá) de extracto de baunilha
200 gr de noz pecan grosseiramente picada
100 gr de noz pecan em metades

Preparação

Pré-aquecer o forno a 180ºC. Untar com manteiga uma tarteira redonda e reservar.
Começar pela base, colocando a farinha, o sal e a manteiga no recipiente do triturador e triturar até começar a formar uma areia. Juntar a água com o vinagre e acrescentar à massa, continuando a triturar até formar uma bola. Retirar para uma superfície enfarinhada e formar um circulo com o rolo da massa. Com a ajuda do rolo passar a massa para a tarteira e forrar. Cortar o excesso de massa, picar ligeiramente o fundo (sem furar a massa até baixo) e levar ao frigorífico enquanto se prepara o recheio.
Para o recheio juntar num recipiente todos os ingredientes à exceção da noz – os ovos, a geleia de milho, o açúcar, a manteiga, a canela, a baunilha –  e mexer muito bem até estar envolvido (evitar bater até ganhar espuma). Retirar a tarteira do frio e coloca-la logo sobre o tabuleiro/grelha do forno, distribuir a noz picada pelo fundo, verter o preparado por cima e dispor as metades de noz. Levar o tabuleiro ao forno cerca de 50 minutos. Ao fim de 25-30 minutos se a superfície começar a escurecer demasiado colocar papel de alumínio para proteger. Verificar que a superfície já está firme e retirar do forno. Deixar repousar e arrefecer. Comer morna ou fria, acompanhado por natas simples ou gelado de baunilha.

Nota: gostei muito desta massa da base. Apesar de levar uma quantidade razoável de manteiga é muito rápida de fazer, fácil de trabalhar e bem saborosa. Receita a guardar!
Nota 1: o preparado parece manter-se muito líquido durante a cozedura, mas acaba por ganhar firmeza, que aumenta depois de totalmente fria.